Material comumente usado em lajes e paredes internas aumenta a segurança e a agilidade na execução de aterros em solos moles, além de reduzir o risco de recalques e rupturas
Quando o tema é uso de EPS (poliestireno expandido) na construção civil, costumamos pensar em lajes e paredes internas. Entretanto, o material também marca presença em locais fora do alcance da visão. Devido às suas características técnicas, ele está sendo cada vez mais aplicado em obras de geotecnia, por exemplo, na substituição do solo compactado durante o preenchimento de aterros, como na duplicação da BR 101.
O uso do EPS no subsolo é mais comum em obras de estacionamentos, rodovias, pontes, estruturas de arrimo, entre outras. O material não deve ser empregado em locais onde o lençol freático está localizado em níveis mais elevados nem em obras cujo canteiro está localizado longe das fábricas fornecedoras. “A longa distância é um dos fatores que causam maior impacto no custo do metro cúbico do produto”, observa Márcio de Souza Almeida, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e associado à Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS).
“Nas análises preliminares, é verificado se o solo de apoio do aterro será capaz de suportar o peso de terra. Se não for, o EPS se torna interessante”, Ilan Gotlieb
ESTUDOS ESSENCIAIS
Antes de optar pelo poliestireno expandido em aterros, é fundamental a realização de diferentes estudos, com destaque para a investigação geotécnica do subsolo, que deve ser feita de maneira bastante rigorosa, conforme orienta Almeida. Outra recomendação é a comparação entre todas as alternativas disponíveis para solos moles, como dreno vertical, solo reforçado, coluna de brita, aterro estruturado, adição de cimento etc.
A análise da profundidade do lençol freático também é de suma importância. A camada de EPS deve sempre ficar acima do nível d’água, caso contrário, pode ocorrer a ruptura do aterro devido à subpressão — força comum em estruturas enterradas abaixo do nível do lençol freático. O estudo do nível d’água deve levar em consideração não somente a profundidade atual, mas também o histórico. Isso porque as variações climáticas interferem no lençol freático, fazendo a camada subir ou descer com o passar do tempo.
“Nas análises preliminares, é verificado se o solo de apoio do aterro será capaz de suportar o peso de terra. Se não for, o EPS se torna interessante”, afirma Gotlieb, sócio da MG&A Consultores de Solos e presidente da Associação Brasileira de Empresas de Projetos e Consultoria em Engenharia Geotécnica (Abeg), lembrando que o projetista precisa saber se haverá sobre o aterro algum tipo de construção com fundações profundas (estacas), que necessitem atravessar a camada de poliestireno expandido. “Para contornar o problema, basta evitar a utilização do material quando for definida a execução das estacas”, complementa.
CUIDADOS
O EPS tem seu desempenho prejudicado se entrar em contato com alguns elementos químicos que podem existir no subsolo, como hidrocarbonetos e gasolina (quando a obra ocorre perto de postos de combustível). Os raios UV também podem causar danos ao material. Para proteger a camada enterrada, é usada manta de polietileno com alta densidade ou geomanta, produto isolante.
“Por questões técnicas, deve existir uma camada de aterro entre o pavimento e o EPS. Porém, é importante lembrar que essa faixa de solo que envolve o material causa recalques que, geralmente, não estão previstos nas obras nem são adequadamente absorvidos pelo EPS. Por isso, é importante avaliar a necessidade do uso de sobrecarga temporária logo após a aplicação do produto”, detalha Almeida.
“Por questões técnicas, deve existir uma camada de aterro entre o pavimento e o EPS. Porém, é importante lembrar que ela causa recalques que não estão previstos nas obras nem são adequadamente absorvidos pelo EPS”, Márcio de Souza Almeida
VANTAGENS
O principal benefício oferecido pelo poliestireno expandido nas intervenções realizadas no subsolo é sua baixa densidade, reduzindo assim o peso do aterro sobre solo mole a ser executado. Sua presença colabora diretamente com a melhoria da estabilidade do conjunto formado pelo aterro e o solo mole. “Além disso, a aplicação é bastante simples, o que agiliza a execução da obra”, comenta Gotlieb. Já em estruturas de muros de arrimo, o material ajuda a diminuir as tensões laterais.
“O peso específico do EPS pode ser até 100 vezes menor do que o do aterro. Essa diferença minimiza os riscos de rebaixamento do solo (recalque) e ruptura, principalmente, quando o solo é mole”, diz Almeida.
NA PRÁTICA
Na geotecnia, o uso mais comum de EPS é em rodovias e viadutos. Uma das maiores aplicações na América Latina foi no viaduto que funciona como principal acesso à cidade de Tubarão (SC).
O material também já foi bastante empregado na execução de edificações convencionais, atingindo ótimos resultados. É o caso de uma obra que estava sendo construída em nível superior ao terreno de construção vizinha. “Com a necessidade de execução de um aterro junto à divisa dos dois empreendimentos, alternativas convencionais de aterro poderiam gerar aumento de esforços nas estruturas de contenção do imóvel vizinho, que não foram projetadas para suportar essas forças. Mas o EPS, por ser mais leve, foi a solução ideal, e, assim, a obra foi executada com sucesso”, finaliza Gotlieb.